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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A ESCASSEZ DE MINHAS REPRESAS




Coração anda meio benevolente, indigente, insuficiente. Umas vezes bate acelerado, outras vezes apanha quieto. A cadência já não reflete o vigor dos 30, pois os tons de cinza já passaram de 40.

Parece mais os reservatórios brasileiros, aguardando gotas de felicidade, enquanto verte cachoeiras de lágrimas. Cansou de ser bonzinho. Mas não admite que os neurônios sempre tiveram razão.

Ando morrendo de medo que um amigo me procure, precisando mergulhar na minha essência e não encontre meus bons fluidos.

Tenho pedido que se aproximem devagar. Que sintam as margens, o calor das areias, a coerência com escassez de águas e o exílio da vida. Que molhem os pés, os pulsos, a fronte. Que se regozijem com minha naturalidade de mina perene, sem excessos.

Peço que não se assustem com a frieza, pois água que brota de pedra é gelada, mas é a mais pura de todas as fontes. Nunca se tornará pedra meu coração, mas sempre foi rocha meu peito amigo. E só se debruça na rocha quem quer calor e segurança.

Por fim, se você precisar mergulhar, mergulhe. Mesmo que meu conteúdo esteja raso. Mergulhe com cuidado, mas usufrua o melhor que eu puder dar. Converse, dialogue, se desmascare, desfrute, questione, se livre do que te acorrenta. Em mim não há grilhões que te aprisionem, não há masmorras, não há algemas, não há insegurança nem incertezas.

E por mais profundo que eu lhe pareça, só não me peça pra mergulhar contigo em meu íntimo. Porque eu ando raso de mim pra me receber!

E se de todo, perceberes que me represo por ti, abre minhas comportas, e deixa que eu flua pelas margens hospitaleiras de meu riacho. Se o pouco de minhas águas não sustentaria uma nau, ainda pode, com altivez, saciar um pouco de sede.

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