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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

LABIRINTOS DA VIDA, ESPELHOS DA ALMA


Certa vez, há muito anos, me vi numa sala e espelhos. Até mesmo a porta de entrada era coberta de vidro, fazendo refletir as partes internas infinitamente; um reflexo dentro do outro.

Talvez tenha sido essa a minha melhor definição visual de infinito ou infinidade.

Jovem, curioso, ansioso, cheio de sonhos, vaidades e orgulhos, pus-me a exercitar variações de perspectivas.

Com a porta fechada, via a mim mesmo refletido incalculáveis vezes em cada uma das 04 paredes da sala. Era eu o Adão daquele mundo, porém se Eva. O primeiro, o único, o último homem de um universo imaginário. Quando eu sorria, todas as reflexões sorriam comigo. Se eu chorava, todos choravam. Se eu refletia, todos os reflexos se tornavam reflexivos.

Eu compreendi, então, o Universo, o Infinito e o Ego.

Ousei abrir a porta. Entreaberta, vários de mim sumiram, porque o reflexo já não era absoluto. Meu Eu agora dividia o espaço com outro espaço, aberto por uma passagem, um acesso. Um ponto pelo qual eu poderia ir e vir, reproduzido tantas vezes quantas imagens minhas eu pudesse contar. Percebi que havia criado a fuga, a iniciativa, o recomeço, o ir e vir. Já não estava fechado em meu mundo.

Compreendi, então, o desafio, a perda, a ida, a volta, a morte, a inquietude, o espiritualismo.

Ao longo de minutos divaguei e conjuguei sorrisos e partidas, choros e chegadas, abrindo e fechando a porta, abrindo e fechando o semblante. Tudo se ajustava aos meus movimentos.

Compreendi, então, o poder, a responsabilidade, a influência, a volubilidade e a flexibilidade.

Uma vez fora da sala dos reflexos, me pus a caminhar minha vida. E tantas vezes me espelhei e me fiz espelho. Não soube espelhar as reflexões e cometi muitos erros. Sem espelhos pra refletir, tomei decisões irreflexivas, obscuras, turvas. Fiz opções mesquinhas, como que vendo, inconsciente, apenas minha imagem no universo daquela pequena sala de outrora.

A impaciência, a incompreensão, o excesso de lucidez e de sinceridade, me fizerem carrasco de outrem. A bebida - e os personagens que ela revelou em mim - me tornaram supliciado de meu carrasco. E fui perdendo, ao longo dos anos, a fortuna de muitos amores, de vários amigos, de uma sala um dia eu enchi de reflexos variados.

Quisera apenas que meus espelhos refletissem o sorriso de outrora. E que minha imagem, translúcida, fosse o reflexo de minha realidade lúcida, imaculada. E não de meus personagens desmesurados.

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