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segunda-feira, 29 de abril de 2013

MARIA FUMAÇA: "Trem da esperança"


O trem apitou distante
Carrega miúdo e gigante
Casais já entrelaçados
Maria e José, enamorados.

Trem-de-ferro altaneiro
Que tantos sonhos transporta.
Permite que chegue ligeiro
Um grande amor à minha porta.

Vagões recheados de gente
Outros de carvão e minérios
Incólumes seguem em frente
Carregam tantos mistérios

Maria-fumaça ligeira
De passo cadente e pontual
Atravessando fronteira
Não muda seu ritual

Enquanto range a fumaça,
O rastro da roda se espalha
É tanto estilo e graça,
Que o verso até se atrapalha

Ouvindo seu apito daqui
Meu coração já dispara
Mas se meu amor trás em ti
Minha ansiedade se cala.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

A LONGA JORNADA DA VIDA (uma estrada, um prato, um leão, um lago e um muro).


Te convido a dar um passeio dentro de si mesmo, refletindo sobre cinco diferentes situações inusitadas (memorize as suas), aparentemente desconectadas entre si: Uma estrada, um prato, um leão, um lago e um muro.


  1. A ESTRADA: Imagine-se caminhando numa estrada e mentalize como ela é: Reta, tortuosa, curta, longa, sem fim, tranquila, movimentada? Qual sua reação diante dessa ESTRADA?
  2. O PRATO: Em sua caminhada pela ESTRADA você se depara com um PRATO. Como é esse prato: Limpo, sujo, inteiro, quebrado, claro, escuro, cheio? Qual sua reação diante desse PRATO?
  3. O LEÃO: Mais adiante você enxerga um LEÃO na estrada. Como você imagina esse leão: Manso, calmo, domesticado, selvagem? Qual sua reação diante desse LEÃO?
  4. O LAGO: De repente, abre-se uma clareira na estrada e você se depara com um LAGO. Como você o imagina: Límpido, turvo, transparente, revolto, calmo? Qual sua reação diante desse LAGO?
  5. O MURO: Um tanto mais adiante você encontra um MURO. Como é esse muro: Alto, baixo, transponível, intransponível, claro, escuro? Qual sua reação diante desse MURO?
As cinco visões que lhe convidei para refletir podem ter os seguintes significados:
  1. A ESTRADA é sua vida, sua caminhada. Às vezes tortuosa, às vezes sem visão de futuro ou da linha de chegada. Às vezes tranquila e outras movimentada demais. As pessoas que trafegam na sua estrada são aquelas que você convidou para estar lá, sendo elas boas ou más companhias. Muitas vezes nossa reação na estrada da vida é de parar ou de retroceder. Mas é necessária a consciência de que a caminhada é sempre pra frente, mesmo quando parece impossível mudar o passo.
  2. O PRATO é a nossa consciência e nosso comportamento. Às vezes somos pratos limpos, outras vezes nos sentimos sujos. Às vezes pratos cheios e outras pratos vazios, com diferentes sensações de saciedade e de fome de viver.
  3. O LEÃO é o conjunto das nossas incertezas, dos nossos medos. A forma como encaramos a vida, as dificuldades e os obstáculos. Uns vêem, nos problemas, leões ferozes; outros vêem pequenos felinos cuja cabeça se afaga com sua aquiescência.
  4. O LAGO é a representação de nossas relações. A forma como encaramos nossos relacionamentos. Se a água é turva, mal sinal. Se é límpida, ótimo prenúncio. Se caminhamos ao largo: sinal de superficialidade; se mergulhamos: sinal de devoção e cumplicidade.
  5. O MURO: É a forma como enxergamos a Vida Eterna, ou a simples passagem desda vida para a eternidade. Muitos vêem pequenas muretas ou portas enormes diante de sua estrada, sinalizando um desapego material para uma passagem singela. Outros vêem muros sem fim.
Na jornada da vida conhecemos pessoas que nos deixam marcadas. Pessoas que, independente do espaço de tempo e de contato, farão diferença em toda a nossa existência. Aquelas que, conjurando o acaso, se permitem conviver mais profundamente.

Pessoas como pratos limpos, que nos dão a sensação de fome saciada e alimento bom pra alma. Pessoas como felinos, que nos dão a sensação de mansidão e carinho, independente do seu tamanho. Pessoas como lagos límpidos, cujas águas nos convidam pra um mergulho de cabeça. Pessoas como portas, que nos dão a certeza que passar dessa vida para a outra, será o prêmio por ter vivido intensamente lado a lado.

São essas pessoas que devemos convidar a pisar o chão de nossas estradas e permitir-lhes desfilar com graça, retirando os cascalhos e obstáculos que se opuserem a uma caminhada suave e constante.





segunda-feira, 15 de abril de 2013

OBSTÁCULOS (Plagiando Drummond)




No meio do caminho havia uma pedra.
Havia pedras no meio do caminho.

E eu tropecei no tempo,
Pois andava de nariz a riste.
Rolei como papel ao vento,
E as pedras me deixaram triste.

Ergui-me e segui o caminho,
Pensando em quem há de passar.
E lancei um torto risinho,
Pois irão também tropeçar.

No meio do caminho havia uma pedra.
Havia pedras no meio do caminho.

E eu me distanciei delas,
Pra não cair novamente,
Pensava nas minhas sequelas,
Das quedas de antigamente.

Ao longe parei pra pensar,
Porque as deixei na estrada.
Pois quem haverá de passar,
Com o risco da fronte tombada?

No meio do caminho havia uma pedra.
Havia pedras no meio do caminho.

Voltando à minha caminhada,
Retornei ao ponto dos seixos.
E com a alma exaltada,
Retirei-as todas dos eixos.

Pousadas na minha palma,
Não pareceram gigantes.
E me arrependi na alma,
Por não tê-las tirado antes.

No meio do caminho havia embaraços.
Não há mais pedras em sua caminhada.
Eu as tirei para que seus passos,
Não tropecem nessa longa jornada.

(Mozart Boaventura Sobrinho)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

MINHA TERRA ADOTIVA



Minha terra tem coqueiro,
onde canta o sabiá.
Também tem lindo Mosteiro,
Que a Lua vem “espiá”.

Aqui tem Santa e Beato.
Cidades cheias de devotos.
Grudados como carrapato,
Em procissão de gafanhotos.

Minha terra tem castanheira,
Onde canta o bem-te-vi.
Vivemos dessa maneira:
Em zaragata de colibri.

Aqui tem Passos de Anchieta,
Romaria dos Homens, igualmente.
Note datas na caderneta,
E compartilhe esse ambiente.

Minha terra tem aroeira,
Onde canta o canarinho
Pra festa da Padroeira,
Eu te ensino o caminho!

Aqui tem sempre romeiro,
Tem gente de todo canto.
E um povo hospitaleiro,
Com gentileza de Santo.

Minha terra tem eucalipto
Onde exsuda o trabalhador.
Não pousa nem periquito,
Nesse lenho enriquecedor.

Árvores não vou citar,
Pássaros? Sem resenha.
Transmuto pra convidar,
Pra Santa festa da Penha.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

SER NORMAL




Perguntaram-me como eu enxergo a NORMALIDADE e o que é SER NORMAL. E porque tantas pessoas preferem não sê-lo.


Ser normal é começar o dia de hoje agradecendo pelo de ontem, sem ter medo do amanhã. É querer ser tão feliz amanhã quanto hoje. Anormal é sentir inveja de quem já é.

Ser normal é andar sem camisa em dia de chuva e de blazer em noite de gala, sem importar quantas peças se tem no guarda-roupa. É fazer pipa pra filho, jogar futebol, pique-esconde e bolinha de gude, com muita vontade de ser criança. Anormal é não ter tempo pra eles, ou pra outros que nos precisam, quando não os temos.

Ser normal é ser sincero, ainda que te custe uma carranca. Os normais se aceitam e se perdoam. Os anormais guardam mágoas. É ser justo, compreensivo, honesto, salomônico. Maquiavel é um dos personagens prediletos dos “não normais” (Gerson é o outro).

Normal é ter dois ouvidos e uma boca, e usá-los nessa proporção. É ouvir desabafos, choros, verdades (mesmo que não pareçam), e deixar boas impressões, tão particulares que pareçam digitais. Ao contrário disso, os anormais falam muito e ouvem pouco.

Ser normal é mandar flores, chocolates, comprar livros pra amigos. É atravessar a cidade pra tomar um café juntos, em dia de chuva. Ser anormal é torcer o nariz quando um deles apenas telefona. Ser normal é chorar num ombro, sem dizer uma só palavra. Ser normal é rir COM alguém e anormal é rir DE alguém.

Ser anormal é ter medo dos raios, maldizer os trovões e não ter vontade de chutar as poças d’água. Ser normal é ouvir passarinho cantando na janela, em dia de chuva, ter vontade de soltar barquinho de papel na enxurrada. Se emocionar e sentir o cheiro de infância que brota da terra molhada.

Texto de: Mozart Boaventura Sobrinho