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segunda-feira, 21 de abril de 2014

O AMOR AO LONGO DE DUAS VIDAS



A gente conhece alguém e sente vontade de ficar por perto. Começa assim: um olhar, um sorriso, um novo olhar. Nos pegamos olhando pra pessoa, sem motivo, sem hora certa, sem concentração. Oferece o que tem na mão, pela simples vontade de “puxar um papo”.


Depois sorri de novo, pega o telefone, torpedo, whatsapp e brinca. Quando pode, chega perto pra dizer bom dia, ou boa tarde, ou bom noite. Se sente bem perto dela. Se dá vontade de comer um chocolate vem junto a vontade de comprar um pra ela também. Chega perto de novo e sente-se algo estranho: Parece que as auras se entrelaçaram e torna-se inevitável a vontade de esticar qualquer pequeno tempo juntos.

Arrisca-se um passo. Não pode falhar, afinal, não se pode preterir a amizade em detrimento de mal fadado amor. Escreve algo bem bonito, mas com uma mensagem subliminar. Pronto: Colou!

No próximo passo já não queremos ficar sozinho. Queremos pedir pra namorar. Mas sente-se, logo de cara, que não precisa pedir. Já se estava namorando há alguns dias. Rola um beijo. Ninguém sabe quem deu. Quem tomou a iniciativa. Não é importante. O que importe é que “rolou”. As horas começam a passar mais vagarosamente quando se está distante, e o dia seguinte é uma eternidade.

No passo seguinte, vem a vontade de ficar pertinho, de fazer carinho e beijar de novo. A imagem não sai mais da cabeça. O que será que o outro tá pensando, querendo, fazendo?? O que será importante pra ela? Como devo me comportar de agora em diante?

E vai ficando. Se achegando, se aconchegando. Se moldando um ao outro. Os passos vão sendo dados uns após os outros. As coisas ao nosso redor passam a ter um novo sentido, uma nova dimensão. Tudo lembra o outro: as músicas, as luas, os dias, as noites, as manhãs, a roupa, o cheiro, a família, os lugares.

Queremos aprender tudo sobre ela. Onde tocar, o que dizer, como olhar. Alguns chegam ao ponto de sentir o que o outro sente. Supremo exercício da paixão: Quando sonham um com o outro, mal esperam acordar e contar. Grata surpresa: Era um sonho real.

Os dias se seguem e a vontade de ficar mais tempo juntos vai aumentando. Não tem mais distância, não tem hora, não existem "outras pessoas". Um simples "oi" é o bastante pra recarregar as baterias do coração e seguir viagem. O corpo sente a distância e a temperatura cai. Chega-se perto e a temperatura sobe.

Dá vontade de dormir do lado. Dividir os mesmos lençóis. Suar os corpos e secar os cabelos. Fazer amor e gozar juntos. O corpo responde a um simples toque. Arrepia, fica fissurado. Aprende-se o cheiro um do outro, o gosto da saliva, a temperatura da língua, a posição preferida. O prato predileto, o número do calçado, as cores das roupas, os modelos, as estampas. Pegam-se olhando vitrines juntos e fazendo pedidos para estrelas cadentes. Não dá mais pra ficar longe.

Nesses momentos é que alguns olham pra trás e vêem o quando já se andou. Quantos degraus já foram subidos. Quase não dá pra ver o início da escada da vida. E aí se perguntam: O que fazer agora?

*          *          *

Essa narrativa, de alguma forma, é a história real de muitos casais, cujos personagens conhecemos ou já interpretamos. Engraçado que, em alguns casos, a resposta à pergunta essencial é extremamente simples: “continuar em frente. Afinal, na escalada da vida não há permissão expressa para andar pra trás”. E ainda que tantos coadjuvantes tenham pisado nosso palco, alguém especial assumiu papel de protagonista de nossa vida. Com o intuito único de continuar sonhando um sonho a dois e abrindo as cortinas dia após dia.

É realmente importante que se consiga preservar esse alguém do seu lado, buscando forças pra continuar subindo. Não dá pra descer daqui. Não dessa escada. É preciso sentir os degraus sustentando os pés. É preciso sentir o chão, porque o amor faz os corpos levitarem.

E quando um parte é normal que o outro se recolha, se deprima. E apesar de ainda se sentirem tão próximos e tão casal, habitam agora dimensões diferentes. Por isso é que o perto se torna tão distante. E imaginar a voz dizendo "EU TE AMO" é a única forma de ir preenchendo os vazios que o silêncio deixou.

Mas a promessa de ser feliz até que a "vida eterna os separe" revolve os sentimentos e não permite que se forme lodo de inconformismo no coração daquele que ficou. E segue-se a outra vida, na expectativa de dias pouco menos espetaculares quantos os vividos ao lado de quem se quis amar pela eternidade.

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