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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

MINHA VIDA SOB O PRISMA DAS FÉRIAS


Não é o que uma palavra significa que afeta nosso cotidiano, mas sim a forma como vivemos, aceitamos e conduzimos o seu significado e sua interferência em nossas vidas. O que lhes narro é como vivi ou ainda viverei aquilo que chamamos de FÉRIAS.

Na primeira fase da vida (infância e adolescência), lembro-me como esperava ansioso pelo início das FÉRIAS, pela oportunidade de viajar, brincar, jogar futebol, pescar! Enfim, me desligar dos compromissos escolares e me divertir sem preocupações com o tempo e o espaço! Me esmerava nos estudos pra não ficar de recuperação ou dependência! Ótimas notas significavam férias mais longas e muitas mais brincadeiras e emoções!

O término das férias também era esperado com ansiedade! O retorno pra escola, pro convívio com os colegas de sala e de colégio! "Tantas coisas pra dizer, tantas coisas pra contar", tantas aventuras pra descrever e experiências pra ouvir!

Na segunda fase (maturidade), as FÉRIAS se tornaram momento de descanso em detrimento dos sonhos de infância. Um prêmio por 01 árduo ano de trabalho. A expectativa de seu início me trazia aftas e dores de cabeça e estômago, ante a incerteza do cumprimento de prazos pre-estabelecidos. Não eram mais as minhas notas escolares que garantiam meu descanso. Eu dependia do desempenho de outras pessoas, de equipes, de coordenados e coordenadores para determinar início e fim de minhas FÉRIAS. Dependia mais ainda de mim mesmo, um péssimo administrador de tempo e de tarefas individuais.

Quantas vezes as adiei ou antecipei o seu término, em detrimento de um bem empresarial. Percebi mais tarde que esses adiamentos me renderam mais decepções do que frutos e acabei, sem querer, tirando férias de bons momentos e grandes amigos.

Veio a terceira fase (constituir família), e as FÉRIAS se tornaram um pouco mais complexas e os períodos mais restritivos. Sobreveio a necessidade de coordenar disponibilidade de esposa, filhos, trabalho e programações dos eternos e indissociáveis ciclos de indispensáveis amigos.

Talvez tenham sido nesse período os melhores passeios, as mais ricas e verdadeiras fotos! Quando foi possível conciliar todos os calendários e antecipar todas as probabilidades, vivi momentos de intensa alegria e rara alforria.

Mas também vivi momentos de rara e intensa tristeza e depressão. Sem crença em mim mesmo, encarcerado nos prazeres tênues da bebida e subjugado por suas ilusões passageiras, alguns poucos amigos preferiram tirar férias de mim.

Na fase atual (maturação dos filhos), as FÉRIAS que ambiciono não são mais as minhas e sim as de meus filhos, cada um numa fase e em possíveis diferentes calendários. O tempo, a necessidade de uma boa profissão e estudos adequados se encarrega de levar os filhos pra longe, num ciclo vicioso que se repete a cada nova geração da vida moderna!

Mas ainda assim, mesmo que por poucos dias, a casa se enche novamente e a alegria é potencializada em expoentes inimagináveis! As brincadeiras entre os filhos e a felicidade de se reencontrarem é de uma pureza infinita. E, ainda que não me caiba esse egoísmo, desejo que as FÉRIAS deles nunca mais terminem.

Mas ontem elas terminaram por completo (FÉRIAS DOS FILHOS), e um novo semestre escolar recrutou todos os filhos. Meu egoísmo cedeu espaço para dois sorrisos e duas despedidas, na frieza das plataformas de uma rodoviária cheia de vida, repleta de vazios de saudades no peito de quem fica, plena em transbordamentos de sonhos e esperanças nos corações de quem parte e abundante em despedidas provisórias! Porque os filhos sempre retornam, ainda o tempo entre uma partida e outra chegada pareça uma eternidade.

A derradeira fase (boa idade) me enche de expectativas e meu coração transborda esperanças e alegrias! Porque nela minhas FERIAS serão permanentes e minhas tarefas serão suaves! Encararei meus desafios e responsabilidades como rotinas de férias. Cuidar dos netos, caminhar na praia, curtir Guarapari, viajar sem programação prévia, tomar sorvete sem pressa, plantar meus temperos, colher meus derradeiros momentos e cozinhar o que der vontade. Mas não planejo nada, porque é incerto o que está por vir. E os vocábulos PLANEJAMENTO e FÉRIAS parecem ser inimigos de berço.

E assim vou vivendo os meus dias. Tocando as minhas rotinas, as minhas tarefas e minhas responsabilidades. Marcando no calendário da vida a data das próximas FÉRIAS, sofrendo menos com as partidas e com as chegadas. De tudo de bom que "elas" representam em minha vida e ante todas as dificuldades que já enfrentei, devaneios que fomentei, sonhos que abandonei, decepções que dei causa e concessões indolentes que me outorguei, prostrado diante do cadafalso das minhas agruras, asseverei:

"JAMAIS TIRAREI FÉRIAS DE MIM !"

2 comentários:

  1. My friend Boa, excelente seu texto. Compartilho cada linha.
    abcs
    Ferraz

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    1. Obrigado meu irmão. Fico super feliz com um comentário assim, de um amigo e uma referência profissional e de lealdade. Eu quis exatamente traçar uma história evoluindo esse pensamento ao longo dos nossos anos. E imagino que você já possa até mesmo ser avô, como o Padinha e Sholl já o são. Eu ainda chegarei lá. Obrigado mesmo. :)

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