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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CRÔNICAS DA VIDA REAL – "A MONJA E O BEM-TI-VI"














Na face interna e levemente escarpada do morro Caiçara, em Belo Horizonte-MG, incrustado na meia parte de cima, subsiste o Carmelo Nossa Senhora Aparecida, . É lá que delicadas e dedicadas Monjas Carmelitas Descalças passam seus dias em afazeres árduos, como bordar, carpir, colher, cozer, cozinhar, jardinar, plantar. E orar, há todo momento.


Entre elas há uma pequenina, de nome Maria do Pilar, que a natureza esculpiu com argila do Paraíso, no ventre de Dona Tuta. Como MARIA, Mãe de Deus, e como PILAR, esteio e estandarte do Cristianismo. Aos 78 anos pilar contempla 61 de vida monástica e clausural.

Num certo dia comum (como são comuns os dias dessas devotas), Irmã Maria do Pilar estendia roupas no varal quando um filhote de bem-ti-vi, já adolescendo pela plumagem, atacou um dos lençóis, alcançando-lhe também os dedos.

Embora seja uma ave de bico alongado e fino, este exemplar não tinha forças para ferir, e ao desferir os golpes demonstrou-se abatido; e ferido. Vendo-o estupefato e mortificado acudiu com um pedaço de mamão. Tamanha foi a sua surpresa ao ver o bichinho se alimentando, aos bocados de bicadas. Surpresa maior se seguiu quando, ao tentar se afastar ainda assustada, o mesmo alçou voo e lhe tomou o alto da cabeça. Como quem pede abrigo e suplica: - Não vá! Fica e me cuida!

Tomou-o nas mãos (as duas juntas quase não lhe cobriam a extensão do corpo alado), levou Carmelo adentro, tratou, alimentou e remediou as feridas.

Já quase recuperado, em tempos de alçar voo, eis que os adultos de sua raça vieram e o atacaram, ferindo asas, cabeça, tronco, danificando boa parte de sua plumagem ainda em estágio jovem.

Piedosa e assustada com a reação das aves, Pilar acolheu-o novamente e novo tratamento se seguiu. E as mãos dóceis, calorosas e crentes de Pilar curaram novamente, dessa vez em definitivo. O jovem bem-ti-vi se sentia acolhido e comia e se aninhava nas mãos em forma de colcha. Caminhava-lhe pelos ombros e arriscava trinados em seus ouvidos.

Os dias se seguiram e a plumagem atingiu seu auge, o bico firmou as extremidades e os sacolejos se tornaram adultos. E, numa certa manhã, aprumado em seus dedos, o jovem pássaro olhou-lhe nos olhos, sacudiu fortemente as penas e soltou um cântico de alegria. Em seguida, baixou levemente a cabeça, como quem faz reverência em agradecimento, recuperou a altivez e alçou voo.

Um voo de afirmação. Para sempre, para os arbustos, e para o céu infinito além deles. Como deve ser de fato a liberdade.

MORAL DA HISTÓRIA: Se fores preterido e magoado pelos Seus e, de repente, um colo anônimo te acolher, verás que o amor incondicional se estabeleceu em sua vida.

(Texto de Mozart Boaventura Sobrinho – 13/01/2013)

"As mãos que curam são mais sagradas que as mãos que oram" (Madre Tereza de Calcutá)

"Somente pela fraternidade a liberdade será preservada." (Victor Hugo)

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