Quais lembranças nós carregamos das experiências a
dois? Às vezes me descubro, inoportunamente, inquirindo-me sobre isso. Divago,
vario, pairo na brisa do tempo, aguardando as graciosas lufadas de encantadoras
recordações. É essencial que as boas lembranças sejam abundantes e meritórias,
para que as ruins não sejam marcantes e evidentes.
Talvez eu me contente com as lembranças dos primeiros
momentos. Do primeiro beijo. Do coração acelerado ante a sua face deslumbrante
me descortinando. Do segundo encontro. O inusitado sobrepujando o corriqueiro
para forjar um elo nas fornalhas do destino.
É possível que me bastem as lembranças de sua relação com os
filhos. Suas concepções, todas as tentativas e os justos acertos. As gestações,
a ampliação do seu corpo e a reconstrução da sua moldura. Os partos, a
dedicação e o amor incondicionais, a doutrinação e a edificação da índole de
cada um. E em meio a tudo isso, encontrar espaço pra me querer próximo,
mantendo acesa a centelha feminina, a fagulha da mulher, em arremate ao
acolhimento materno.
Quiçá eu resguarde os momentos menos reservados. As grandes
viagens, os belos passeios, as idas ali. Os acampamentos. As inesquecíveis
reuniões em família (tanto as famílias que nos ascendem quando aquelas que nos
acolheram na sociedade). As conquistas, individuais e coletivas. As conquistas
dos filhos e a percepção de saciedade missionária familiar.
Mormente queira eu guardar o que está por vir. As próximas
viagens, os netos, os momentos a dois, as aulas de dança e de pilates, a
impaciente serenidade de aguardar um ao outro. A perseverança do caminhar juntos.
A derradeira despedida.
Mas ao final dessa viagem dentro de meu imaginário concreto,
percebo que os acontecimentos podem se tornar parcos se, para o meu amor, não
forem singulares os meus SIM e incontáveis as lembranças dos meus sorrisos.
E que eles tenham sido suficientes para justificar a minha
presença ao seu lado.
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