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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

QUE A FERIDA NÃO ESTANQUE O VERSO


No atol da rocas que fundeei meu mundo
No fio da roca que me espetei profundo
O dedo agora sangra, como o peito
E a pena cessa, a rima e o jeito.

O tato doído e rubro
Da escarnada ferida
Com um tenso vazio negro
Já não tateia a pena da vida

As promíscuas linhas das digitais intactas
Repletas do denso sangue da ferida aberta
Em sua sutileza de identidades incólumes
Não vêem o agravo que o sangue acoberta

Premida em seu eixo cinquentenário
Não sabe a pena se a ferida estanca
Entre dedos que concretizam o imaginário
É o que agora a pena em seu afã espanca

O peito profana insana rima
O cérebro capta, assimila e acena
Coesas, razão e emoção ditam a sina
Mas infringe a mão, afligida pela pena

De que adianta agora, o mundo sem poesia?
A pena não peleja, se o cérebro não raciocina
A mão não escreve, se o coração não cria
E a pena, inerte, a chaga não elimina

Reunido em assembleia, urgente
O corpo todo exige alforria
De uma peça antes demente
Surge a solução, quem diria
A boca sugere algo eloquente:
- Tapar a ferida com energia!

Desde sempre o autor quisera
Não desdenhar do verso como quimera
E rasga a alma cessando o medo
Secando a ferida do próprio dedo

Se antes no corpo o sangue jazia
Arqueja agora, sem hipocrisia
Se secou a tinta que os versos escrevia
Jorra em sangue uma pura poesia

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