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quarta-feira, 5 de junho de 2013

TRANSPIRAÇÃO E INSPIRAÇÃO



Às vezes o dia não encaixa. As horas parecem adquirir asas e voam com turbinas acopladas. E o tempo vai escasseando e esvaindo entre os dedos, como areia fina ou gelo em derretimento.

As tarefas não se completam e as iniciativas não logram êxito. Um arquivo é corrompido aqui, um programa não funciona ali, um computador não responde à altura. Mas há pessoas que aguardam pela sua competência do outro lado do “contrato”, independente dos recursos que você planejou dispor.

Uma pessoa querida tomba num acidente vascular; outra se contorce de dor; ou então está fora alcance dos olhos, estressada com o dia-a-dia. Ensaio um chamado de absoluta carência, mas recordo que os filhos estão distantes, pra lá dos antigos charcos da Reta da Penha, nas cercanias da Baia da Guanabara ou no miolo da Ilha de Saint-Laurent.

Uma voz ecoa por dentro e, de súbito, desejo gritar MAMÃE, mas recobro rapidamente os sentidos. Afinal ela está mais atarefada que eu nesse momento de angústia.

Olho pro lado e vejo as Escrituras e, ao lado, uma foto de meus Máximos Multiplicadores Comuns, ainda crianças. Num impulso de quem arremete o corpo fora d’água na busca do último resquício de oxigênio, os segundos comparam as crianças da foto com os HOMENS que a mãe natureza moldou com uma parte microscópica de mim.

Respiro fundo, recobro a confiança, resgato a fé, alinho os pensamentos e retomo o leme de minha nau. Afinal, se pude ser tão cirúrgico pra reproduzir a vida, ao invés de me apequenar diante de uma folha morta de papel, dar-lhe-ei vida nova com minha inspiração.

E eis aqui assim surgem, entre inspirações e transpirações, as coisas que escrevo.

(Mozart Boaventura)

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