Não hesitei interpretá-la, pois já perdi muita carne: Uma avó amada. Um tio que foi segundo pai. Um Pai que foi primeiro Eu. Amores que morreram antes de vir à vida; amizades que nunca acabariam; amigos finados. Alguns que o tempo lhes tirou a vida; outros poucos que a falta de tempo lhes entregou a morte. Um único que a falta de vida lhe fez tirar a própria.
Mas eu indaguei a lágrima. Não a quis aceitar na face, ainda que passageira. Tendo ofuscando o brilho dos meus olhos, cingindo a minha face e fazendo olho d’água na minha caricatura, ela teria de se justificar. Mas não o fez. Deslizou faceira pelo meu semblante, pendurou-se incólume na curvatura do meu queixo e se jogou, como suicida, sem préstimo algum.
E ao perceber que o último minuto também se jogara (como a minha lágrima), me dei conta que era FINADOS. Que a ascensão do ponteiro do relógio e a queda da “gota de humor segregada pela glândula dos olhos” me traziam meus mortos. E a sucessão foi inevitável. Sucessão de lembranças, sucessão de minutos, sucessão de lágrimas.
Respirei fundo e aspirei umidade. Rebusquei meus ensinamentos cristãos e lembrei-me que FINADOS não é sinônimo de FIM e sim protagonista de VIDA ETERNA. Porque AMAR, de verdade, é ter certeza que O OUTRO não morrerá jamais.
Dobrei os joelhos, redobrei as angústias e "tri-dobrei" as amarguras. Porque todos esses que SE FORAM, deixaram em mim um tanto, quanto, muito. E minha personalidade se orgulha de carregar tantos, poucos, máximos.
Senti meus mortos me tocando a alma; senti o sopro da vida eterna; senti a vida me cobrar sorrisos. E eu pude dormir em paz!
Senti meus mortos me tocando a alma; senti o sopro da vida eterna; senti a vida me cobrar sorrisos. E eu pude dormir em paz!
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NOTA: O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados. O Dia de Todos os Mortos celebra todos os que morreram e não são lembrados nas orações (Monsenhor Arnaldo Beltrami).
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