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terça-feira, 17 de junho de 2014

ÁLBUNS DE FAMÍLIA - Flagrantes da tua ausência.


As vezes é tão estranho esbarrar numa caixa de fotografias e te reencontrar! Parece tão inusitado te ver lá, inerte, mas sentir o seu sorriso inundar meus ouvidos e preencher meu coração! A leitura das fotos em sequência chega a lhe dar movimento e vida, como se fosse palpável a sua presença!

E nas filmagens dos grandes momentos, as pequenas passagens eternas de nossas vidas: Sua voz ecoa dentro de mim, suas gargalhadas me fazem rir também e chego a sentir o pulsar do seu coração!

Em toda a minha vida eu lhe dei um único beijo, na ultima vez que nos vimos! Mas me conforta que tenha acontecido! Me lembro do seu olhar assustado, por eu ter sentado no seu colo no auge dos meus 35 anos, ter acariciado seus já ralos e raros cabelos brancos, e ter lhe roubado um beijo no rosto. Mas num relance vi sua face trocar o sobressalto pela felicidade e o espanto pelo encantamento. Talvez tenha desejado isso de qualquer um (ou cada um) de nós, durante toda a sua vida.

Mas avanço no tempo e os registros fotográficos te mostram no meu casamento, no batismo de seus netos; meus filhos no teu colo! Ao final de 1998 seus registros se acabam e termina a minha participação na sua vida. Sorrio entre lágrimas, porque você participou pouco da minha e me fez perceber a importância de participar mais da vida dos meus!

Paro por alguns segundos e descortino minha consciência repleta de fotografias tuas, como espero que as minhas ornem as paredes dos corações que gerei. Me olho por dentro, mergulho nos meus sentimentos e não consigo diferenciar o que tenho de Ti ou de Mamãe. Porque sou bom e sou ruim, sou atenção e sou opinião, sou respeito e sou ousadia, sou crítica e sou aprendizado. Engulo o choro, recobro a postura e concluo que não deixarei lacunas nos meus álbuns dos melhores momentos!

Num momento de devaneios, recordo subitamente amigos que perderam filhos e tiveram que preencher seus álbuns de família com a saudade e o aprendizado das curtas convivências! Eu tive você por 35 anos, te terei em minha memória por toda a vida, tratei que sejas eterno multiplicando sua existência, e ainda serei parte da sua vida depois da minha passagem!

No final da viagem pelos álbuns de família, e pela exposição permanente das suas caricaturas no museu do meu coração, percebo que a vida apenas seguiu seu curso! Foi tão curta a nossa convivência, mas foi intensa, sublime e natural.

Hoje seria seu aniversário meu Pai, mas eu ainda celebro sua vida como uma dádiva incomensurável para a minha existência.

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